O doping está diretamente ligado ao desporto
de alto rendimento e o atletismo não foge a essa regra. A
justificativa: a incansável busca da performance, da melhora de
centésimos de segundos que podem representar uma vitória ou uma 10ª
posição. Há quem diga que a indústria do doping está sempre um passo à
frente das agências de controle. Tanto que o sangue de atletas está
sendo guardado por anos até que exista a tecnologia necessária para a
análise. Mas e entre os amadores? O que justificaria o uso de
anfetaminas, hormônios, EPO?
Não há
números para comprovar o uso de substâncias proibidas entre corredores e
triatletas amadores, já que não há qualquer controle ou exames para
eles nas provas. Inclusive entre os atletas de elite não são todas as
provas, mesmo oficiais, que contam com os testes.
O
problema não se restringe ao Brasil nem é algo recente. Vem de anos. "A
busca por artifícios que vão melhorar o tempo é antigo. Acontece que
hoje, com a internet, há um maior acesso às substâncias químicas. Ficou
mais fácil, mas existe desde o tempo em que eu corria", afirma João
Traven, um dos proprietários da Spiridon, que organiza, entre outras
provas, a Maratona do Rio e a Corrida da Ponte.
Comprovando
que o artifício não é recente, mas preocupa as autoridades, há quatro
anos, em Berlim, na Alemanha, houve uma campanha contra o doping no
esporte de recreação. Na época, o porta-voz do Ministério da Saúde,
Klaus Vater, informou que havia uma espécie de competição entre os
desportistas amadores. A justificativa: uma pressão por resultados (de
amigos, das equipes...) leva os amadores a fazer uso de substâncias
proibidas para melhorar o desempenho. Já naquela época, a intenção era
mostrar, especialmente aos mais jovens, a possibilidade de efeitos
destrutivos para a saúde causados pelo uso desses remédios.
Nas
vésperas da Olimpíada de Pequim, na China, um dos organizadores dos
Jogos afirmou que o uso de substâncias proibidas estava se espalhando
dos atletas da elite para a população em geral. Migrando dos desportos
competitivos para os sociais, dos veteranos para os jovens. Em Agosto de
2008, autoridades antidoping chinesas localizaram 450 doses de EPO,
testosterona e esteroides em uma vistoria a um campo de treinamento de
uma escola desportiva em Lianoning.
ATÉ NOS KITS. No
Brasil isso ocorre raramente, mas no exterior, principalmente em provas
mais longas, incluindo as ultramaratonas, muitos kits de participação
já vêm com comprimidos estimulantes e relaxantes musculares, por
exemplo, que, mesmo que não contenham elementos considerados dopantes
pelas leis internacionais, beneficiam bastante no desempenho,
principalmente retardando o início das dores musculares.
Um
dos poucos organizadores que mantêm a premiação nas faixas etárias em
todas as provas que organiza, Traven se mostra triste com essa
proliferação do doping, mas não há como fazer qualquer controle. "É como
correr com o número de outra pessoa, outro problema cada vez mais
comum, infelizmente, e que também merece uma matéria", afirma. "Tenho
conhecidos que contam que tomam, destacam as novas drogas, seu
‘potencial' e ‘benefícios', como falam do lançamento de um novo tênis",
afirma. Uma preocupação de Traven é durante suas provas. "Atrás do
número, muitos colocam o tipo sanguíneo, se tem alergia a esse ou aquele
medicamento, produto, mas ninguém escreve que tomou a substância
proibida A, B ou C, e podem passar muito mal durante a corrida. Temos
uma excelente equipe médica na Maratona do Rio, os profissionais sabem
identificar os sintomas, mas é sempre uma grande preocupação."
Marcelo
Apovian, o Lelo, que foi atleta olímpico de esqui e há anos é corredor
amador, lembra que mesmo na elite, quando competia, era outro mundo,
havia um rígido controle e o doping não fazia parte da cultura. "Via
muito pouco", lembra. "No atletismo, como no Brasil não tem um controle
rígido, a não ser com quem está no topo, a elite da elite, a situação é
diferente", afirma. "Conversando com médicos, nutricionistas e técnicos
que militam tanto entre amadores quanto profissionais, a afirmação é que
os amadores se dopam mais até que os profissionais."
De
acordo com Lelo, pelo que ouve, as histórias de doping envolvem
diferentes grupos. Por exemplo, os amadores com tempos entre 31 e 33
minutos nos 10 km, com 25, 26 anos de idade, que brigam por vitórias em
algumas provas menores, mas sabem que precisam baixar esse tempo para
concorrer a premiações financeiras melhores, entrar em uma equipe mais
estruturada, chamar a atenção de um treinador... "Há outros que disputam
Ironman, Meio Ironman, correm 10 km para 38 minutos, que estão
competindo dentro das próprias assessorias, querendo ser os melhores,
chegar na frente..."
Separando esses
grupos citados, há centenas de amadores que dividem os treinamentos com o
trabalho, obtendo resultados de expressão, sem qualquer substância
extra. São frutos exclusivamente da genética e do esforço pessoal,
correndo entre 33 e 34 nos 10 km, 1h15 na meia-maratona e sub 2h40 na
maratona. Geralmente, são pessoas simples, mas que se destacam nas
corridas devido a uma preparação excelente.
Fonte Revista contra relogio.
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