sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Doping entre corredores amadores.

    


O doping está diretamente ligado ao desporto de alto rendimento e o atletismo não foge a essa regra. A justificativa: a incansável busca da performance, da melhora de centésimos de segundos que podem representar uma vitória ou uma 10ª posição. Há quem diga que a indústria do doping está sempre um passo à frente das agências de controle. Tanto que o sangue de atletas está sendo guardado por anos até que exista a tecnologia necessária para a análise. Mas e entre os amadores? O que justificaria o uso de anfetaminas, hormônios, EPO?
Não há números para comprovar o uso de substâncias proibidas entre corredores e triatletas amadores, já que não há qualquer controle ou exames para eles nas provas. Inclusive entre os atletas de elite não são todas as provas, mesmo oficiais, que contam com os testes.
O problema não se restringe ao Brasil nem é algo recente. Vem de anos. "A busca por artifícios que vão melhorar o tempo é antigo. Acontece que hoje, com a internet, há um maior acesso às substâncias químicas. Ficou mais fácil, mas existe desde o tempo em que eu corria", afirma João Traven, um dos proprietários da Spiridon, que organiza, entre outras provas, a Maratona do Rio e a Corrida da Ponte.
Comprovando que o artifício não é recente, mas preocupa as autoridades, há quatro anos, em Berlim, na Alemanha, houve uma campanha contra o doping no esporte de recreação. Na época, o porta-voz do Ministério da Saúde, Klaus Vater, informou que havia uma espécie de competição entre os desportistas amadores. A justificativa: uma pressão por resultados (de amigos, das equipes...) leva os amadores a fazer uso de substâncias proibidas para melhorar o desempenho. Já naquela época, a intenção era mostrar, especialmente aos mais jovens, a possibilidade de efeitos destrutivos para a saúde causados pelo uso desses remédios.
Nas vésperas da Olimpíada de Pequim, na China, um dos organizadores dos Jogos afirmou que o uso de substâncias proibidas estava se espalhando dos atletas da elite para a população em geral. Migrando dos desportos competitivos para os sociais, dos veteranos para os jovens. Em Agosto de 2008, autoridades antidoping chinesas localizaram 450 doses de EPO, testosterona e esteroides em uma vistoria a um campo de treinamento de uma escola desportiva em Lianoning.
ATÉ NOS KITS. No Brasil isso ocorre raramente, mas no exterior, principalmente em provas mais longas, incluindo as ultramaratonas, muitos kits de participação já vêm com comprimidos estimulantes e relaxantes musculares, por exemplo, que, mesmo que não contenham elementos considerados dopantes pelas leis internacionais, beneficiam bastante no desempenho, principalmente retardando o início das dores musculares.
Um dos poucos organizadores que mantêm a premiação nas faixas etárias em todas as provas que organiza, Traven se mostra triste com essa proliferação do doping, mas não há como fazer qualquer controle. "É como correr com o número de outra pessoa, outro problema cada vez mais comum, infelizmente, e que também merece uma matéria", afirma. "Tenho conhecidos que contam que tomam, destacam as novas drogas, seu ‘potencial' e ‘benefícios', como falam do lançamento de um novo tênis", afirma. Uma preocupação de Traven é durante suas provas. "Atrás do número, muitos colocam o tipo sanguíneo, se tem alergia a esse ou aquele medicamento, produto, mas ninguém escreve que tomou a substância proibida A, B ou C, e podem passar muito mal durante a corrida. Temos uma excelente equipe médica na Maratona do Rio, os profissionais sabem identificar os sintomas, mas é sempre uma grande preocupação."
Marcelo Apovian, o Lelo, que foi atleta olímpico de esqui e há anos é corredor amador, lembra que mesmo na elite, quando competia, era outro mundo, havia um rígido controle e o doping não fazia parte da cultura. "Via muito pouco", lembra. "No atletismo, como no Brasil não tem um controle rígido, a não ser com quem está no topo, a elite da elite, a situação é diferente", afirma. "Conversando com médicos, nutricionistas e técnicos que militam tanto entre amadores quanto profissionais, a afirmação é que os amadores se dopam mais até que os profissionais."
De acordo com Lelo, pelo que ouve, as histórias de doping envolvem diferentes grupos. Por exemplo, os amadores com tempos entre 31 e 33 minutos nos 10 km, com 25, 26 anos de idade, que brigam por vitórias em algumas provas menores, mas sabem que precisam baixar esse tempo para concorrer a premiações financeiras melhores, entrar em uma equipe mais estruturada, chamar a atenção de um treinador... "Há outros que disputam Ironman, Meio Ironman, correm 10 km para 38 minutos, que estão competindo dentro das próprias assessorias, querendo ser os melhores, chegar na frente..." 
Separando esses grupos citados, há centenas de amadores que dividem os treinamentos com o trabalho, obtendo resultados de expressão, sem qualquer substância extra. São frutos exclusivamente da genética e do esforço pessoal, correndo entre 33 e 34 nos 10 km, 1h15 na meia-maratona e sub 2h40 na maratona. Geralmente, são pessoas simples, mas que se destacam nas corridas devido a uma preparação excelente.
 
Fonte Revista contra relogio.

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